Jenna Coleman fala sobre Marie-Andrée Leclerc, mulher que inspirou sua personagem de The Serpent
10.12.2020
postado por JCBR
Jenna Coleman e Tahar Rahim falam sobre o estilo dos anos 70, época que The Serpent é ambientada, e a percepção que ambos têm das pessoas reais que inspiraram seus personagens na minissérie. Confira as scans da revista Radio Times contendo a entrevista, e abaixo a tradução:

Parece bom… ser mau
Jenna Coleman assume o estilo dos anos 70 para um drama de Ano Novo

Se você é um dos milhares de britânicos que, como de costume, não vão viajar para as praias do sudeste asiático neste inverno, você pode viajar pela televisão.

The Serpent é uma série criminal dramática exuberante estrelada por Jenna Coleman e ambientada na Tailândia dos anos 1970. Filmada em grande parte no local e evitando qualquer sinal do turismo de massa do século 21, a série de oito episódios é tão visualmente atraente quanto você esperaria. “Filmamos em locações incríveis”, diz a estrela de Victoria, que trocou crinolinas e espartilhos por calças flares e blusas marcantes para a filmagem de um ano que foi, inevitavelmente, interrompida pela pandemia global. “Nós fomos para Hua Hin [um elegante resort de praia tailandês] e um parque nacional notável para uma cena de lago. Foi sem dúvidas deslumbrante.” No entanto, por trás da beleza e dos trajes artisticamente recriados, o drama conta a história de uma série de crimes horríveis.

The Serpent se desenrola tendo como cenário a “trilha hippie” dos anos 1970, quando milhares de mochileiros ocidentais chegaram em busca de praias perfeitas, muito sexo e drogas e uma dose de espiritualidade do Extremo Oriente. Isso, infelizmente, tornou alguns vulneráveis a predadores inescrupulosos como o notório assassino Charles Sobhraj (ator francês Tahar Rahim) — The Serpent (A Serpente) do título — e sua cúmplice Marie-Andrée Leclerc, interpretada por Coleman.

Em uma diversão fatal no sul da Ásia, Sobhraj, um ladrão de joias, traficante de drogas e, quando lhe convinha, assassino, atraiu pelo menos dez viajantes ocidentais para a morte. Junto com outras mulheres, a apaixonada franco-canadense Leclerc foi uma cúmplice voluntária.

Às vezes, as vítimas do casal eram avisadas de que era possível ganhar dinheiro fácil em uma fraude antes de serem mortas. Outras foram envenenadas, por capricho, por causa de seus passaportes. “Não foi uma parte fácil de atuar porque como você pode retratar alguém que não tem empatia?” diz Coleman. “Não sei o que é [ser assim] e acho que é impossível que pessoas como nós saibam.”

Embora Leclerc fosse igualmente cúmplice, foi Sobhraj, um psicopata limítrofe superconfiante com uma profunda aversão à contracultura da trilha hippie, que lidou com os assassinatos. “Ele fez coisas terríveis”, diz Rahim, que ganhou fama como um criminoso internacional fictício no filme A Prophet, de 2009. “Não estou glorificando ele, mas é fascinante estudar a psicologia dessas pessoas. Mesmo que você não seja um ator, você percebe quando ele era criança, ele era um menino de rua que havia sido abandonado pelo pai, pelo seu país, maltratado pela mãe. Um passo após o outro, ele caiu nessa coisa terrível — matar pessoas.”

Os assassinatos muitas vezes tinham uma dimensão performativa de chamar atenção. Os corpos de suas vítimas femininas na Tailândia (havia mais em outros países) foram encontrados separadamente com biquínis de estampas brilhantes, dando a Sobhraj seu outro apelido na Tailândia, o Assassino do Biquíni. “É horrível e ao mesmo tempo fascinante”, diz Rahim. “As pessoas sentem repulsa e fascinação quando pensam em Leclerc e Sobhraj.”

Se o retrato de Sobhraj de Rahim nas roupas da época faz um homem muito mau parecer muito bom — parte do apelo inicial para suas vítimas, afinal — isso vem de um trabalho de equipe diligente. “A figurinista pesquisou muito sobre a moda da época”, diz Rahim. “E as fotos que tínhamos de Charles e Marie-Andrée, eles tentaram o máximo que podiam para copiar seu estilo.”

Esse estilo, é preciso dizer, depende muito dos óculos de sol. “Os tons eram incríveis”, diz Coleman. “Tínhamos uma grande variedade — eu deveria ter pegado alguns emprestados do set.” (“Eu peguei alguns!” Diz Rahim.)

Coleman foi muito além da aparência de sua personagem, perdendo-se nos diários de Leclerc, cobrindo o período dos assassinatos e antes. “A maneira como ela vivia era completamente delirante”, diz Coleman. “Era tudo sobre esmagar tudo isso e não deixar a verdade entrar. Ela tinha uma natureza obsessiva e era muito emotiva. Acho que ela era depressiva e certamente instável às vezes. Ela viveu neste estado de conflito, sem reconhecer os assassinatos que estavam acontecendo. Em seu subconsciente, tudo se resumia a colocar a verdade de lado.”

Será que a beleza de Sobhraj, por mais intensa que seja interpretada por Rahim, foi suficiente para hipnotizar Leclerc? “Eu sei”, diz Coleman. “Por que ela não foi embora? Como ela pôde ficar? O que houve com Charles? Acho que Charles tinha esse poder sobre as mulheres. As mulheres pareciam não apenas estar apaixonadas por ele, mas também fanáticas por ele. Em sua vida anterior, Leclerc era religiosa e da maneira como ela escreve em seu diário, parecia uma devoção obsessiva a Charles. A maneira como ela gira em torno do que Charles faz e como Charles a trata — é como se cada pensamento dela ao acordar fosse um vício completo para ele. Ela está completamente conectada a ele. Não importa o que ele faça, até mesmo ao ponto de assassinar.”