Jenna Coleman reflete sobre a relação de sua personagem e Hannah, personagem de Ruby Stokes, em The Jetty
09.07.2024
postado por JCBR
Em recente entrevista à nova edição da Radio Times, Jenna Coleman reflete sobre a dinâmica entre sua personagem Ember Manning e a personagem de Ruby Stocks, Hannah, em The Jetty. Confira as scans e a tradução da entrevista completa abaixo:

Só posso deduzir que Jenna Coleman é uma boa mentirosa ou (como já suspeitava) uma atriz muito boa, quando ela me diz que na verdade é bastante descontraída na vida real. Certamente, a câmera discordaria.

Nos últimos anos, a estrela de Victoria tem cada vez mais buscado no mercado o tipo de papéis intensos que seus colegas certamente dariam os dentes para fazer – jovens protagonistas femininas em dramas de alta qualidade na TV, todas personagens complexas e incognoscíveis que o público fique sem saber se deve torcer até a cena final.

Coleman, agora com 38 anos, trouxe uma seriedade tão enigmática para a mãe de uma criança desaparecida (The Cry), a parceira de um sedutor serial killer (A Serpente), a esposa traída em férias com o marido nas Montanhas Rochosas (Turismo Selvagem) e agora a detetive com um passado complicado em The Jetty.

Este drama em quatro partes da dramaturga Cat Jones vê Coleman interpretar Ember Manning, encarregada de solucionar um crime com raízes enterradas que se entrelaçam na sua própria história amorosa.

Ambientada em uma pitoresca cidade com lago em Lancashire, a história aborda temas complicados incluindo memórias turvas pela nostalgia e fronteiras sexuais turvas por questões de curiosidade e consentimento.

“Cat queria fazer essas perguntas, mas não as responder”, diz Coleman. “É complicado. Todos nós olhamos para o nosso passado através de uma certa lente, e quando a lente de Ember muda, ela tem que reexaminar quem ela é. Estou sempre interessada em um thriller policial quando o caso se torna pessoal. É um despertar, muito denso e matizado.”

A maternidade imperfeita também está no cerne do show, com Amelia Bullmore interpretando a mãe liberal de Ember, Sylvia, e Ruby Stokes como a filha adolescente dela, Hannah. Para Coleman, que anunciou recentemente que estava esperando seu primeiro filho com o seu companheiro, o diretor Jamie Childs, a amorosa, mas disfuncional, dinâmica em jogo é fascinante.

“Tudo parece estar em engenharia reversa: a mãe de Ember é como a adolescente, Ember, a adulta tendo um despertar adolescente e a filha Hannah tendo que se tornar a adulta. Essas dinâmicas pareciam muito reais. Eu tenho algumas amigas que tiveram filhas muito jovens. Elas são mais como irmãs e então às vezes tem que usar a carta da Mãe. Elas estão constantemente de olho umas nas outras.”

No centro do caso há a confusão sobre políticas sexuais entre homens jovens e mulheres muito mais jovens, numa comunidade insular onde todos os memorandos #MeToo dos últimos anos evidentemente não alcançaram. Para Coleman, enquanto a história pode parecer um conto tão antigo quanto o tempo, o foco dela ainda é fresco. “Me perguntaram se este projeto poderia ter foi feito há dez anos, e talvez sim, mas através de uma lente diferente;” ela diz. “Não estamos dizendo que as mulheres são boas e os homens são ruins, é mais sutil. Uma personagem adolescente é sexualmente mais liberal, outra bem menos – então como você pode aplicar as mesmas regras para ambas? Há dez anos, suas histórias teriam sido pintadas com pinceladas muito mais amplas.”

Será que Coleman se sente mais fortalecida do que quando ela chegou à indústria em 2005, ainda uma adolescente, tendo desistido de uma vaga na universidade para um papel em Emmerdale? Ela faz uma pausa. “Você tem momentos em que você sente a mudança e tem momentos em que parece exatamente o mesmo, dependendo do set que você se encontra e o que mais está acontecendo”, diz ela eventualmente.

“Além disso, é lutar para estar confortável defendendo a si mesma sem conflito. Isso é onde a minha geração levou muito tempo para chegar, ao mesmo tempo em que eu vejo as meninas em The Jetty… elas entram e elas estão tão relaxadas, elas estão realmente presentes, elas conhecem sua própria voz. Eu era um desastre ansioso na idade delas, pensando que as opiniões de todo o mundo eram obviamente muito melhores do que as minhas. Eu teria achado muito mais difícil trazer minha voz ao set nos meus 20 anos.”

Ela afirma que essa antiga dúvida de si mesma é em parte pelo fato de ela não ter ido à Universidade. Ela parece quase melancólica com isso. “Levei muito tempo para encontrar confiança no set”, ela diz agora. “Se você está em uma sala de ensaio, você tem tempo para explorar sua caixa de ferramentas, como você trabalha e opera. É onde você pode realmente se entender como atriz, enquanto eu tive que aprender durante trabalho o tempo todo. É por isso que gosto de voltar a ensaiar e fazer peças. Se você quiser estudar seu ofício, é incrível estar em um lugar por três anos para fazer isso, eu teria adorado.”

Em vez disso, o que Coleman teve foram pais extremamente prestativos – “Eu era o tipo de criança que estudava para os exames sem ser mandada, para que pudessem me apoiar, mas sem intervenção” – e uma curiosidade por seu ofício despertou, ela conta, pelo trabalho de Antônio Minghella. “Ele foi a primeira pessoa que me fez pensar sobre o cinema de uma maneira diferente”, lembra ela sobre o falecido diretor de Truly Madly Deeply, O Paciente Inglês e Cold Mountain. “Truly Madly Deeply e aquela cena no rosto de Juliet Stevenson!” ela se lembra. “Eu li o livro dele e costumava fazer testes usando uma das suas peças.”

Do outro lado da cultura, uma lenda da TV também diz que Coleman recebeu seu nome da personagem de Priscilla Presley, Jenna Wade, em uma certa novela do Texas, algo que ela diz ser praticamente verdade… “Eu ia me chamar de Gemma, e minha avó disse que Jenna era mais bonito. Foi em Dallas que ela ouviu o nome.”

Como sua co-estrela de The Jetty, Amelia Bullmore, Coleman começou a trabalhar em novelas, no caso dela como Jasmine Thomas, uma estudante de Emmerdale que virou jornalista e assassina acidental. A atriz australiana Margot Robbie uma vez me disse que nunca trabalharia tanto quanto em Neighbours, e Coleman concorda. “Em Emmerdale, se o boom não estivesse acontecendo, você estaria acabado”, diz ela. “Tive que aprender a acertar uma cena muito rapidamente, o que provavelmente é um ótimo exercício.”

Embora ela sentisse que era o momento certo para sair quando o fez em 2009, e rapidamente conseguiu um papel recorrente em Waterloo Road, ela agora reflete sobre aquele momento como difícil e confuso: “Foi muito difícil entrar em uma sala [de reunião] para um programa de TV, e sem estar na sala, como você pode ser considerada para um papel? E também vejo isso com meus amigos. A menos que você esteja com um agente, como você faz isso? Lembro-me de ter sentido fortemente: ‘Este é meu primeiro trabalho, você não pode ser estigmatizada, você está apenas começando! Foi uma mudança difícil e só aconteceu por sorte e acaso.'”

Talvez com esta lição em mente, Coleman pareceu pular levemente cinco anos como Clara Oswald, companheira do Doutor em suas 11ª e 12ª encarnações, também conhecido como Matt Smith e Peter Capaldi. Apesar de ser uma adição popular ao Whoniverse, ela não corria o risco de ser estereotipada e foi completamente convincente em seu próximo papel principal, o da jovem Victoria, série de época do ITV sobre a monarca que reinou por longos anos, com seu então parceiro na vida real, Tom Hughes, interpretando o príncipe Albert. Agora, com duas décadas de trabalho, um papel no rolo compressor da Netflix, The Sandman, mais projetos em desenvolvimento no horizonte e um bebê a caminho, Coleman está muito longe de ser a ingênua preocupada que sua voz não seja ouvida. Quando ela menciona ser produtora executiva de The Jetty e também sua estrela, tudo faz parte do controle criativo que ela agora adota. “Você conhece seus próprios gostos e tons e o que atrai você”, ela reflete. “Estou muito no começo, mas já estou chegando à maioridade.”