Jenna Coleman na nova edição da revista The Observer
16.09.2018
postado por JCBR
Fotografada por Alex Bramall, Jenna Coleman estampa a capa da nova edição da revista The Observer. A revista que começa a ser comercializada no UK hoje, 16, também traz uma entrevista exclusiva com a atriz. Confira:

O outro dia, Jenna Coleman deu à luz pela sétima vez. “Eu sinto como se meu ano foi somente sutiãs de maternidade e barrigas de gravidez,” ela diz, tomando uma xícara de chá perto de sua casa no norte de Londres. “Virou uma paródia já.” Antes que você comece a se preocupar sobre a anomalia médica sobre o útero de Coleman, fique tranquilo que foi tudo para as câmeras. Na vida real, a atriz de 32 anos ainda não tem filhos: “Eu não sei se agora é a hora para ter,” ela diz. Na televisão, entretanto, ela passou por uma longa fase de interpretar mães.

Ela está no meio das filmagens da terceira temporada de Victoria, um seriado da companhia ITV escrito por Daisy Goodwin em que Coleman faz papel da rainha do título, e “nós estamos com sete crianças já, o que é ridículo”. Victoria teve nove filhos, ela continua, “Eu ainda não escapei das gravidezes.” E ainda tem a vindoura série dramática psicológica da BBC, The Cry, em que Coleman interpreta Joanna, uma mãe jovem dos dias atuais em Glasgow, lutando para se adaptar às demandas de um recém-nascido. Coleman teve que fingir dar à luz para esse bebê também, gritando e se segurando às margens de uma cama de hospital, mostrando os dentes e com um rosto encharcado com suor. Foi muito, muito convincente, eu digo. “Foi?” Coleman pergunta. “Ótimo.” Para entrar no ritmo antes de firmar a cena de um parto, ela escuta as músicas de Mumford & Sons. “Tem algo sobre o banjo,” ela explica, “Eu só tento elevar minha adrenalina e por alguma razão o banjo e a baterias, eu acho, ajudam. Não sei…” Se Coleman já se encontrou com a atriz Carey Mulligan, que é casada com o cantor da banda, Marcus Mumford? “Não! Imagina se eu encontrasse e dissesse: ‘Seu marido ajuda nas minhas cenas de parto?’”

Acontece que dar à luz é apenas o começo da ação de The Cry. A série de quatro partes, adaptada da homônima novela da autora australiana Helen Fitzgerald, centra uma tragédia chocante que ameaça o psicológico de Joanna a desemaranhar. Ao expor a desintegração de seu estado mental, o drama procura expor os mitos e as verdades não reconhecidas da maternidade. É uma assistida interessante, mas em algo tão focado nas complexidades de ser um pai ou uma mãe, eu me indago se Coleman já se preocupou sobre o fato de não ter filhos. “Sim. Eu passei uma boa parte das filmagens pensando que eles tivessem colocado no elenco a pessoa errada — e por que diabos eu?” ela responde, “Eu não sou uma mãe! Esse pensamento não saía da minha cabeça. Eu sentia como se houvesse algo que eu obviamente não seria capaz de mostrar. Era algo tão… essencial que eu realmente nunca experimentei. E eu realmente me bati com isso.” Ela mandou e-mails para todas suas amigas que tiveram filhos pedindo por dicas, e recebeu muitas informações em troca, “aquelas realidades cotidianas de que se trata ser uma nova mãe…”

Isso a fez pensar sobre a “perda de identidade” que uma mulher enfrenta após dar à luz e do jeito que elas são julgadas pela sociedade por tentarem manter seus sensos de identidade. Ela realmente pensa muito, Coleman, e a conversa com ela muitas vezes desliza em elipses do que ela tenta clarificar como um pensamento ou uma opinião. Quando ela aparece, vestida em um longo cardigan que parece tomar conta da sua pequena silhueta, ela aparenta nervosa, e admite essa ser sua primeira entrevista em anos.

“Eu estive ocupada trabalhando,” ela disse, preocupadamente, como se eu fosse testar a veracidade de sua desculpa. “Existem tantas pressões sobre as mulheres,” ela continua, “sentir que a maternidade é a coisa mais maravilhosa do mundo e que é, absolutamente, preciosa e bonita, mas que não significa que você não possa ter outras coisas na vida e eu acredito que todo mundo tem que ser um pouco mais clemente quanto às mães que não se sentem culpadas por ainda quererem um pouco de independência… Eu acredito que todos nós temos tantos padrões de como as coisas devem ser e acredito que isso é algo tóxico, sério.”

De fato, Coleman anda pensando muito sobre as mulheres ultimamente — não só as mães, mas sobre como nós todas encontramos nosso lugar em um mundo em que as dinâmicas de gênero são tão determinantes. A ascensão dos movimentos #MeToo e Time’s Up em relação ao despertar dos escândalos envolvendo o importante desgraçado cineasta, Harvey Weinstein, tem sido “maravilhoso… mas eu acredito que o único jeito para que isso realmente tenha um impacto é para que essas conversas continuem acontecendo e esses fatos continuem aparecendo e continuem crescendo… Isso realmente me fez sentir menos apologética por mim mesma.”

Em que sentido ela sentia como se precisasse se desculpar? Coleman pisca lentamente e vira sua cabeça um pouco para baixo, “Eu penso um pouco sobre os últimos anos, porque eu era jovem e mulher, então havia um sentimento em que talvez eu não tivesse um direito a uma opinião.” Eu vejo o que ela quer dizer. Coleman está no início de seus trinta anos, e trabalha desde os 18 anos, quando ela conseguiu o papel na novela britânica Emmerdale (sua personagem acabou matando um policial com a perna de uma cadeira e se encontra na cadeia), antes de ser contratada como a assistente em Doctor Who, junto a Matt Smith e, depois, Peter Capaldi, mas ela ainda aparenta muito mais jovem do que sua idade. Suas feições são delicadas, sua compostura tímida, sua estatura pequena. Com seus olhos e cabelos castanhos, ela parece muito uma criatura das florestas que é mais confortável em construir um ninho de folhas e galhos do que precisar conversar com alguém que ela acabou de conhecer. Ela gosta de ler (recentemente, ela adorou as novelas de Elena Ferrante Neapolitan e Sapiens de Yuval Noah Harari). Ela me parece como uma introvertida, que se encontra em um mundo de extroversão.

Coleman diz que quando ela aceitou o papel de Victoria dois anos atrás, “Eu me senti realmente muito nova… Eu não penso que já me toquei quanto minha altura, ou minha feminidade até atuar como ela. É aquilo sobre poder, eu acho, e se sentir ‘Como você interpreta poder? Como você projeta poder? Você simplesmente se senta em um trono? O que você faz?’”

O set era um ambiente intimidante, mas como ela estava interpretando uma personagem que enfrenta os mesmos dilemas — especialmente, como fazer sua voz ser ouvida em um cômodo cheio de homens mais velhos. Coleman gradualmente aprendeu como ser “corajosa o suficiente” para dizer o que ela sentia. No final, a Rainha Victoria despertou dentro dela. “Eu definitivamente me sinto muito mais confortável agora. E eu digo que isso é provavelmente por causa de Victoria.” Ela clama nunca ter experienciado assédio sexual na indústria, mas quando ela foi para Los Angeles aos 21 anos de idade procurando por audições, “Me pediram que aparecesse em audições usando somente um biquíni e eu disse não. Sabe, houve coisas estúpidas como essa.”

O quão ciente ela é sobre pedir por pagamento igual em seus papéis? “É difícil para mim porque obviamente nos últimos papéis que eu fiz, eu estive em uma posição confortável em que eu fui capaz de ser forte. Mas a questão é, ninguém fala sobre isso. Ninguém realmente sabe e eu acredito que essa seja a razão para que tanto tempo tenha passado em que as coisas simplesmente eram permitidas acontecer.” Ainda, não é difícil imaginar que Coleman poderia, possivelmente, ter discutido salário com Tom Hughes, o ator que faz o Príncipe Albert. Os dois, com rumores de terem se conhecido no set, estão em um relacionamento desde 2016. Se você conhece o cara que faz seu marido na telinha, eu brinco, então você poderia lhe perguntar o quanto ele ganha.

Coleman sorri e fica vermelha intensamente. “E se,” ela diz, olhando para o lado, e isso é tudo que eu consigo pegar sobre o status do seu relacionamento. “Eu sinto como se fosse uma lata de minhocas que é melhor ser mantida fechada,” ela explica. Mas e ela é feliz? “Deus, sim.”

O casal recentemente mudou de casa e Coleman tem estado ocupada decorando. “Eu venho me interessando por design de interiores. Adoro o aspecto criativo. Se você precisa saber qualquer coisa sobre telhas ou tons de branco, conte comigo.” Seu pai, Keith, decora o interior de bares e restaurantes, então claramente isso corre em família. Sua mãe, Karen, “não trabalha” e seu irmão Ben, mais velho por três anos, é um marceneiro. Coleman sempre soube que queria atuar. “Eu costumava estar sempre brincando e contando histórias. Eu comecei a frequentar o teatro desde que eu era muito nova. Sempre estive lá, acho. A parte complicada era como transformar essas idas em um trabalho. Mas nunca foi realmente uma pergunta…” ela pausa, “Eu simplesmente amava. Realmente adora isso tudo.”

Quando criança, crescendo em Blackpool, ela era “um pouco Maria-tomba-homem”. “Eu ficava correndo atrás do meu irmão. Ele me disse que o jardim estava cheio de grama comestível.” Se ela comeu a grama? “Comi, sim,” ela sorri. “Então ele me disse que eu estava preparada para a vida.” Na escola, Coleman se juntou a uma companhia de teatro e levou peças às margens de Edinburgh. Quando ela estava tentando entrar na escola de teatro, uma agência local a puxou para uma audição para Emmerdale. Foi, ela diz, “uma casualidade” que ela acabou conseguindo o papel mas ela conseguiu e, aos 18 anos, se mudou para Leeds enquanto todos seus amigos estavam indo para a universidade. “Foi algo meio que, ‘Tchau, mãe!’” Coleman diz agora, “Eu estava pronta para ir.”

Trabalhar em Emmerdale a ensinou muito, porque “você constantemente trabalha com muitos atores diferentes, muitos diretores diferentes… Foi um ótimo treinamento, mas eu não queria ficar ali para sempre.” Ela também fez questão de não ser rotulada como uma atriz do norte, da classe operária, sendo oferecida papéis que envolvia vidas oprimidas e crianças sequestradas, e foi por isso que, logo após sair de Emmerdale em 2009, ela escolheu interpretar a filha privilegiada de um dono de indústria na adaptação da BBC da obra de 1957 Room at the Top do autor John Braine. “Eu não gosto de interpretar a mim mesma,” Coleman diz, “Eu adoro qualquer coisa que me faz sentir longe de mim mesma. Eu ganho muito mais liberdade… Mas usar minha própria voz e ser eu mesma? Eu me sinto autoconsciente. Se me pedem para fazer um discurso ou algo assim, é como meu pior pesadelo. Eu não consigo lidar.”

Deve ser estranho, dado seu desgosto por ter atenção atraída para ela fora da telinha, descobrir que ela agora é famosa. O impacto de ter estrelado em um clássico culto (Doctor Who) e um período de época do horário nobre (Victoria) significa que ela constantemente é parada na rua. “Eu vejo, se é uma criança nova, por exemplo, eu saberei que é Doctor Who. Existe uma certa demografia,” ela diz. Os fans de Victoria tendem a serem mais velhos e, “Teve uma vez que uma pessoa perguntou, ‘Posso tirar uma selfie, Sua Majestade?’ na loja John Lewis, de todos os lugares!” Eu digo a ela que foi provavelmente a anedota mais quintessencial da classe média que eu já ouvi. Ela ri, mas depois se preocupa que pode ter soado como se ela estivesse reclamando. Seu nível de celebridade, ela insiste, não a faz sentir como se sua privacidade é invadida. “Penso que se houver alguma ocasião em que eu me sinta como se houvesse alguém batendo na sua porta e invadindo seu espaço. Mas não, não acredito que eu poderia sentar e reclamar disso.”

Ela termina seu chá e joga a alça de sua bolsa sobre seu ombro. Ela tem design de interior para atender e tons de branco para meditar. Ela pensa em tirar um tempo de folga depois que The Cry for ao ar e terminar de filmar Victoria. Ao decorrer do último ano, Coleman tem trabalhado tão intensamente que ela passou o total de 12 noites em casa. Ela quer terminar a decoração e depois viajar. “Eu nunca fui à Índia ou a Marraquexe” ela diz, sonhando. “Eu quero ir a um lugar com cores — talvez Cuba. Pegar minha câmera. Ir e ter um pouco de vida de Jenna.” E, presumivelmente, tirar a barriga de bebê — ao menos por um tempo.

The Cry logo chegará à BBC1.

Tradução e adaptação: Bea @dutiesofcare