Jenna Coleman fala sobre o futuro de Victoria
28.09.2018
postado por JCBR
Com a contagem regressiva para a estreia de The Cry, Jenna concedeu mais uma entrevista revelando o que podemos esperar de sua personagem para a nova edição da revista Radio Times. Além de The Cry, Jenna também fala sobre o futuro da série Victoria e revela estar ansiosa para a estreia da nova temporada de Doctor Who. Confira abaixo:

Os roteiristas de televisão são ótimos em brincarem com os nossos medos mais sinistros, e o que pode ser pior do que sua criança desaparecendo do nada? De Kiri para Stranger Things e The Missing, a história de uma criança desaparecida continua voltando para nossa tela. O novo drama da BBC1, The Cry, inicia-se com a mãe de um bebê desaparecido saindo da porta de sua casa em direção a um monte de jornalistas e repórteres de TV.

Os paralelos com o desaparecimento de Madeleine McCann são gritantes. O casal envolvido é bonito, classe média e articulado, mas eles deixam seu filho sozinho, dizem, só por um momento, e ele desapareceu. A jovem mãe — interpretada por Jenna Coleman — é bonita, trágica e digna, talvez um pouco controlada demais. Os espectadores são deixados a indagar se ela teve alguma coisa a ver com o desaparecimento de seu próprio filho.

The Cry é radicalmente diferente de qualquer outra coisa que Jenna Coleman já fez. Depois de ganhar muita experiência quando ainda nova em Emmerdale e Waterloo Road, ela fez seu nome através de Doctor Who, e depois através da jovem rainha no sucesso da ITV Victoria.

The Cry é um grande contraste em comparação a Victoria e Victoria foi um grande contraste em comparação a Doctor Who,” diz Coleman, “E isso foi o que me atraiu. Se tivesse sido oferecido algo sci-fi depois de Doctor Who, eu provavelmente teria dito não. Eu nunca atuei em um thriller psicológico antes, então é bem interessante.”

Coleman está atualmente filmando a terceira temporada de Victoria, e quando nós nos encontramos com ela durante uma pausa nas gravações, ela mostra um grande alívio em não estar usando um espartilho. Ao invés, ela está vestindo uma gola branca debaixo de um terno de veludo. Ela é pequena com olhos gigantes e senta-se em uma cadeira de frente a mim, com suas costas reta, pés em saltos alto pretos. Ela tem 32 anos mas aparenta mais nova.

Ela fica animada ao perguntar o que eu achei de The Cry e se eu descobri o enredo com base no primeiro episódio. Eu lhe digo minha teoria e ela sorri. “Tem várias coisas que enganam,” ela diz, “O desafio é tentar ser fiel com a audiência mas esconder coisas ao mesmo tempo. A performance que você oferece tem que ser vista de várias diferentes perspectivas, então é como um microscópio — fazer o enredo sem vazar o enredo.”

Filmado na Escócia e Austrália, The Cry é uma série de quatro partes adaptado do livro de Helen FitzGerald. Parece-se com um dos outros livros-que-viraram-filmes populares e psicológicos, como Gone Girl ou The Girl on the Train, que oferecem narradores não confiáveis e a mesma história sendo dita de múltiplas perspectivas, deixando o espectador ou leitor ponderando em quem acreditar.

No primeiro episódio, Joanna (Coleman) e seu marido Alistair (Ewen Leslie) viajam com seu bebê da Escócia para a Austrália, onde ele pretende batalhar pela custódia da filha de seu casamento anterior. O bebê chora e grita durante o voo inteiro. Joanna caminha de um lado para o outro no corredor enquanto os outros passageiros deixam claro sua desaprovação e seu marido dorme profundamente graças a máscara de dormir e fones de ouvido.

“Nós filmamos a cena do avião em um hangar em Maindenhead com um avião adaptado. Depois de dois dias com os bebês gêmeos em um espaço fechado, parecia que realmente tínhamos ido e voltado da Austrália. Os bebês eram atores geniais, começavam a chorar o momento que o diretor gritava ação. Eu tenho sete crianças na nova temporada de Victoria, então eu sei o quanto é difícil filmar com crianças pequenas.”

Eu confesso uma necessidade de criticar o marido ficcional de Jenna por dormir durante o pesadelo do voo para a Austrália. Por que sua personagem ainda o atura? “Joanna perdeu sua confidência e sua identidade quando o bebê nasceu, ela não tem família por perto e está isolada. Quando uma amiga pergunta o porquê dele não ajudar com o bebê, ela diz, ‘Ele ganha o dinheiro, ele vai trabalhar, ele precisa dormir e eu tenho os peitos.’”

Quando a pressão na saúde mental de Joanna cresce, o espectador percebe que algo horrível está prestes a acontecer. E realmente, algumas horas depois deles chegarem à Austrália, o bebê Noah desaparece do carro alugado do casal. Eles o tinham deixado por um momento para irem na loja de conveniências da pequena cidade onde a ex-mulher e filha dele moram. Uma busca pela polícia massiva acontece, juntamente com todas as pressões no casal incluindo uma tempestade de interesse da mídia.

Se Coleman tem facilidade para chorar, igual a suas co-estrelas crianças? “Não, não muito, mas felizmente não tem muitas cenas de choro. Aí vem outro choque, porque Joanna não chora muito, então as pessoas se perguntam da forma que uma mãe de luto deveria se comportar.”

A fragilidade tímida da personagem de Coleman em The Cry é um contraste com Victoria. Ela faz o papel da jovem rainha como uma pessoa que controla suas emoções. “Foi difícil me sentir como ela. Foi difícil ter acesso a quem ela era mas assim que comecei a ler livros e fazer pesquisas, eu fiquei surpresa com o quanto eu não sabia. Em seus diários, ela escreve muito sobre seus ataques violentos de raiva e como ela jogou tesouras em sua babá quando era criança.”

É um testamento à confiança de Coleman que ela negou o papel da Victoria duas vezes antes de finalmente aceitar. “Eu tinha acabado de fazer quase quatro anos em Doctor Who, e não queria outro projeto longo na TV. Eu queria fazer várias coisas diferentes, mas agora que faço Victoria, eu a acho muito viciante.”

Por quanto tempo ela pretende continuar em Victoria? “Nós estamos decidindo temporada por temporada. Na próxima (que vai ao ar ano que vem), ela começa a parecer mais matronal, ela já teve seis ou sete filhos, então está um pouco mais gorda, com peitos maiores, a maquiagem é mais caída… mas virá um ponto em sua história em que nenhuma maquiagem protética ou uma voz mais grave será convincente o suficiente.”

Nascida em Blackpool, Coleman conseguiu seu primeiro papel, na idade de 11 anos, na peça musical Summer Holiday, estrelando o apresentador de TV e cantor Darren Day. Ela fica um pouco com vergonha quando eu lhe pergunto sobre isso. “Sim, Peter Capaldi (sua co-estrela em Doctor Who) acha esse fato hilário.”

Foi esse o momento que ela decidiu se tornar uma atriz?

“Não, eu não fui uma criança-atriz. Eu só fiz o papel durante as férias de verão, e foi maravilhoso. Sempre gostei de dançar e eu adorava estar no palco da Casa de Ópera de Blackpool, que é gigante e linda. Mas foi só aos meus 15 anos, no ensino médio, que eu fiquei interessada em atuar.”

Seu professor da escola de drama, Colin Snell, é quem ganha crédito por isso. “Ele montou um pequeno, semi-profissional companhia de teatro dentro da escola e nós levamos nossas apresentações de um porão em Buxton para o Festival de Edinburgh. Vários de nós atores do norte fomos ensinados por ele. Ele é um ótimo professor.”

Ela estava na lista de espera para estudar em uma escola de teatro quando foi oferecido seu primeiro papel profissional em Emmerdale, aos 19 anos. Por quatro anos, ela interpretou a adolescente Jasmine — uma personagem que chegou às manchetes por ter um beijo lésbico e bater até a morte em um policial fora de serviço com uma perna de cadeira.

Emmerdale foi uma ótima prática, mas às vezes eu sinto como se tivesse perdido muito por não ter ido para a escola de teatro.” É a razão que agora ela pretende estrelar em um teatro. “Eu perdi a oportunidade de ter o tempo de ensaio para explorar.”

Ela só tinha 25 anos quando Steven Moffat a escalou ao elenco como Clara, a companhia do 11º e depois 12º Doutor (Matt Smith e Peter Capaldi, respectivamente).

“Eu não tinha ideia do que esperar. Eu nunca tinha assistido à série. Eu lembro de conseguir a audição e pensar que poderia ser algo muito interessante. Mas nada me preparou para o que viria a ser. Assim que eu li o script de Steven Moffat, virei uma criança novamente adentrando um livro de fantasia. O aspecto sci-fi era um mistério para mim. Eu tive que usar o Google várias vezes durante o primeiro script para descobrir o que todo o jargão significava.”

Ela está animada quanto à 13ª Doctor Who, a primeira incarnação mulher interpretada por Jodie Whittaker, que também vai ao ar aos domingos, estreando dia 7 de outubro. “O que eu mais quero saber é se ela vai ser do norte, se ela vai usar seu próprio sotaque, se nós teremos outro Doctor Who do norte.” [Podemos confirmar que sim].

Eu tinha sido previamente avisada que Coleman é relutante sobre falar de seu namorado e co-estrela em Victoria, Tom Hughes, que faz o Príncipe Albert. Uma pergunta inocente se eles se conheceram no set de Victoria é rejeitado com “Eu não vou falar sobre ele em entrevistas.”

Um pouco indecisa, eu pergunto sobre um namorado passado, Richard Madden, que no momento de nossa entrevista está estrelando em Bodyguard. Os bons looks do ator e seu peito nu tem sido o assunto de várias colunas. Eu quero saber se ela pensa que, no auge do movimento #MeToo, não tem problema a mídia objetificar o corpo de um homem mas o de uma mulher, sim? Entretanto, o momento que seu nome escapa meus lábios, um dos oficiais da imprensa — um dos dois no cômodo, sentando atrás de Coleman durante nossa conversa — interrompe e traz a entrevista a um fim.

Assim que eu me levanto para sair, pergunto a Coleman sobre seus 773 000 seguidores no Instagram. Ela tem que postar constantemente para manter seu status como uma atriz, ou ela faz isso por prazer? “Eu amo fotografia e design de interior, então é isso que eu posto. É um dilema interessante para uma atriz. Você não quer que as pessoas saibam demais sobre sua vida pessoal, porque elas podem confundir esta com os papéis que você faz. Acho que tem uma linha quanto ao tanto que você revela.”

Se essa entrevista serve pra qualquer coisa, sua linha defensiva é mantida a todos os custos. Coleman está claramente determinada para manter um senso de mistério glamoroso sobre sua vida pessoal. Muitos dirão, “Quem pode culpá-la?”

Tradução e adaptação: Bea @dutiesofcare