Jenna Coleman na primeira página do jornal The Daily Telegraph —  Review
29.09.2018
postado por JCBR
Faltando menos de 24h para a estreia de The Cry, além de estar na primeira página do jornal britânico The Daily Telegraph – Review, Jenna concedeu uma entrevista para divulgar a minissérie, falou sobre o movimento #MeToo e fez um paralelo entre sua vida pessoal com a de sua recente personagem Joanna, que tem sua vida constantemente examinada pelo público quando seu filho recém-nascido desaparece. Confira a entrevista traduzida e os scans:

Ao final do primeiro episódio de The Cry, a nova série da BBC destinada a preencher o vazio deixado por Bodyguard, a personagem de Jenna Coleman, Joanna — uma mãe sofrendo depressão pós-parto, cujo filho desaparece do nada — fala sobre como é ter dois rostos: um para ser examinado pelo público, e outro que existe no privado.

É, claro, um clichê horrível para um entrevistador desenhar paralelos entre um ator e o personagem que eles fazem. Mas dado nosso apetite insaciável por informações pessoais (e o fato que Coleman tem sua vida amorosa guardada do público), quando eu me encontro com a atriz de 32 anos em um hotel em Londres, me sinto vagamente justificada em tentar consegui-las.

Ela sorri. “Eu posso definitivamente associar essa sensação com o sentimento… de ser exposta.” Coleman uma vez foi ligada com o Príncipe Harry depois de ser fotografada falando com ele em uma corrida de cavalo. Ela costumava sair com Richard Madden, estrela de Bodyguard (sim, ela assistiu à série) e agora está em um relacionamento com Tom Hughes, que faz o papel do seu marido em Victoria. Então ela sabe um pouco sobre ter muitos olhos sobre ela.

A virada em The Cry, Coleman diz, é que a mãe, Joanna, nunca pediu por nada daquele tipo. “Ela é uma professora primária, um pouco tímida, que tem que passar por essas circunstâncias horríveis com todas essas câmeras apontadas para ela.” Ela aponta que, no livro no qual a série foi baseada, pela escritora australiana Helen FitzGerald, Joanna se descreve como “um animal em um zoológico.”

Nós agora vivemos em um mundo em que toda expressão facial, todo movimento, é interpretado — e muitas vezes como algo que não é. Coleman pergunta se eu assisti o episódio Nosedive de Black Mirror, em que as pessoas dão avaliações em estrelas depois de qualquer interação.

“Não é muito longe da realidade,” ela fala, seus olhos se arregalando. “Digo, eu tenho que checar minha avaliação no Uber. Acho que nós somos treinados para dar estrelas desde a escola. Quando você ganha uma estrela, é uma coisa boa, não é? Talvez nós fomos condicionados da forma errada.”

Eu indago como ela se protege desse tipo de coisa, como alguém sob o olho público. “Criando uma aparência, você quer dizer?” Bem, isso e o desejo por ‘curtidas’ nas redes sociais. “Instagram é complicado, porque…” ela pausa por um momento. “Acho que se você for um comediante ou um apresentador, onde sua personalidade faz parte do seu trabalho, é diferente. Mas como uma atriz, eu sempre me sinto um pouco conflita. Porque eu adoro o Instagram — realmente amo — e tem muito mais que eu gostaria de colocar lá mas eu odeio que as pessoas estão te assistindo, e elas descobrem o que você comeu no café da manhã.”

Coleman nasceu em Blackpool. Ela descobriu teatro na escola, onde foi representante de sala, e quando fazia audições para entrar para a escola de teatro, conseguiu um papel em Emmerdale. Depois veio Doctor Who, em que ela interpretou a assistente de Peter Capaldi (ela está super animada que agora tem uma Doutora mulher), seguida por papéis em Capitão América – O Primeiro Vingador e o drama para televisão Titanic, por Julian Fellowes. Mas foi Victoria que a fez estratosférica, com o público se apaixonando por sua interpretação agressiva de uma das nossas monarcas mais duradouras. Atualmente, está filmando a terceira temporada; sua personagem acabou de ter seu sétimo filho.

A série The Cry dificilmente seria mais diferente. É implacavelmente escura e claustrofóbica, e Coleman é incrível como uma nova mãe perdida em sua própria depressão, amedrontada por sua própria crueza. Ela descreve filmar como uma “maratona emocional”, que envolveu choro por trás das câmeras, seguido por “uma tontura inacreditável”. Reciprocamente, ela diz que atmosfera no set se tornou “muito leve, acho que pela história ser tão escura e a realidade de tentar imaginar essas circunstâncias era tão pesada que no momento se se gritava ‘corta’, nós ficávamos bem brincalhões.”

Sendo filmada em Glasgow e Melbourne, com um bom pedaço se situando em um avião, onde a personagem cansada de Coleman, Joanna, tem dificuldade para acalmar seu recém nascido, enquanto seu parceiro, que tem estado ocupado com o trabalho, dorme pela maior parte do voo. É uma cena que muitas mulheres reconhecem, mas aqui essa podridão ressona, e logo volta em harmonia. “Eu fui realmente atraída pelo aspecto do thriller psicológico,” diz Coleman agora, “Eu nunca fiz nada do tipo. Foi algo tão inteligentemente balanceado e arremessado. Eu não sabia em quem confiar, eu não sabia de quem eu gostava, eu não sabia exatamente o que tinha acontecido.”

The Cry é a substituição perfeita para Bodyguard, com um enredo que te deixa questionando todo mundo. Mas também explora a fetichização de mães, e as expectativas impostas sobre elas. O diretor, Glendyn Ivin, fez Coleman usar uma barriga protética no público por alguns dias para praticar, “E eu acabei sendo prescrita um creme para rosto pós-gravidez, que eu comprei só pra conseguir sair da loja.”

“Acho que nós somos muito cruéis com as mães. Na época Vitoriana [uma mãe nova] se deitaria em uma cama por um mês, esperando seu corpo recuperar. Agora se tem uma paternidade de duas semanas e o pai volta para o trabalho, e sua existência mudou completamente mas por favor, você poderia levantar e seguir com isso?”

Isso diz algo sobre a pressão que nós colocamos em mulheres que Coleman se sentiu um pouco culpada por ser posta no elenco como uma mãe, uma vez que ela não é uma. “No início, eu senti como se tivessem escalado a pessoa errada, que havia certa coisa primal que eu não conseguiria mostrar, que não conseguiria entender, e eu estava me batendo por conta disso.”

Eu lhe digo que não acredito que um ator homem sem criança iria pensar nisso caso fosse escalado como um pai. “Sim, eu entendo isso. E cada vez mais eu percebo, quando converso com minhas amigas, que é uma pressão que nós colocamos sobre nós mesmas. Nós temos expectativas não realísticas.”

Se ela pensa que a indústria mudou para as mulheres, dado ao movimento #MeToo? “Eu sinto como se estivéssemos em um fluxo no momento,” ela diz. “Acho que a maior coisa que mudou é a ideia de que você não tem permissão para falar: medo deixou todo mundo calado. No passado, eu não queria falar nada ruim ou me posicionar quanto a nada pelo medo de ser rotulada como difícil ou tentar atrair atenção para mim mesma. E agora tem tantas atrizes mais novas que tem vozes de uma forma que não acredito que tínhamos, e creio que isso vai continuar mudando.”

Ela já passou por sua própria experiência #MeToo? “Não,” ela diz, “Eu estive em Doctor Who por um bom tempo, e depois, em Victoria, eu faço a protagonista, e isso traz um certo tipo de…” ela hesita. Respeito? “Sim, segurança de um jeito, e eu sempre fui permitida pela companhia de produção a ter uma voz.

“Eu estive em LA muitos anos atrás,” ela comenta, implicando que as coisas são mais desrespeitosas lá. “Mas pra falar a verdade, era algo mais dentro de mim. Acredito que, especialmente aos meus 20 anos, eu não era muito confidente. Eu não sentia como se conseguiria afirmar a mim mesma da maneira que consigo agora. Mas eu não sei se isso ocorre por eu estar mais velha, ou se o clima realmente mudou.”

A seguir, tendo decidido evitar outro papel longo na TV, Coleman vai aparecer no teatro Old Vic na peça de Arthur Miller, All My Sons, junto às estrelas americanas Bill Pullman e Sally Field. Mas primeiro, ela vai tirar umas férias, no México talvez; algum lugar em que ela possa desligar seu celular e sentir seu ‘cérebro relaxar’; algum lugar, acima de tudo, que ela possa ser ela mesma, sem se preocupar que alguém possa ver.

The Cry começará no domingo, 30 de setembro, às 9h na BBC One.

Tradução e adaptação: Bea @dutiesofcare