The Cry: Jenna Coleman conta detalhes sobre a minissérie
23.09.2018
postado por JCBR
Faltando apenas uma semana para a estreia do recente drama de Jenna Coleman, a atriz estampa a capa da nova edição da revista TV Week. Junto com Ewen Leslies, o casal conta como se prepararam para interpretar seus personagens, no que se inspiraram e contam detalhes sobre as gravações de The Cry. A autora Helen FitzGerald também participou da entrevista contando tudo o que há por trás do livro de mesmo nome da minissérie. Confira abaixo:

Esta é uma jornada de parar o coração, onde você sente uma onda de esperança antes de se conectar com um abismo de desespero que, eventualmente, ameaça cada fragmento de sua sanidade. E você sabe que essa montanha-russa nunca termina até que você possa segurar seu bebê nos braços mais uma vez.

Essa é uma dor insuportável, imagina-se, sofrida pela jovem mãe Joanna e seu marido Alistair em um emocionante thriller psicológico da BBC, The Cry. Adaptada do livro de mesmo nome de Helen FitzGerald, o drama de quatro partes conta a história de como uma tragédia os separa quando seu bebê recém-nascido é sequestrado de uma pequena cidade costeira na Austrália.

Joanna é interpretada por Jenna Coleman, que ganhou aclamação da crítica por sua interpretação da rainha Victoria no drama da ITV. Um aspecto chave desta série é o intenso escrutínio público que o casal – em particular Joanna – sofre. “O que é interessante, é que ela não se comporta de uma maneira que você esperaria de alguém que acabara de perder um filho,” Jenna diz. “Você esperaria demonstrações de emoção. Então, por que ela não está de luto? Ou por que ela não está sofrendo em público? É porque ela está em choque? Talvez ela seja uma mentirosa – ou só é estranha. Há um duplo blefe constante.”

“Isso realmente foi desafiador de interpretar. Era como andar em uma corda bamba e emocionalmente intenso porque você está mentindo dentro de uma mentira, como bonecas russas. Eu assisti o drama televisivo Liar para me inspirar antes de filmar.”

Quando nos conhecemos no set, Jenna está usando uma calça de moletom e o mínimo de maquiagem para criar a aparência exausta de muitas mães novas nos primeiros meses após o parto. “É uma maratona emocionante,” diz ela. “A cena que o bebê desaparece é o tipo de coisa que faz o sangue gelar. É o pesadelo de todos os pais.”

A tragédia se desenrola depois que Joanna e Alistair viajam de sua casa na Escócia para a Austrália com o seu bebê recém-nascido Noah para visitar a mãe de Alistair e ganhar a custódia da filha de Alistair, Chloe (Markella Kavenagh), de sua ex-esposa australiana Alexandra (Asher Keddie). “A história é sobre as consequências do desaparecimento do bebê – que acontece logo quando eles chegam na Austrália,” Jenna explica. O evento traumático coloca o casal em um teste final frente a verdade sobre a descoberta do desaparecimento de seu bebê.

Jenna, que está de volta à BBC pela primeira vez desde que deixou Doctor Who – onde interpretava a companion Clara Oswald – em 2015, diz que The Cry não poderia ser mais diferente de seu papel como a rainha Victoria. “Não há espartilhos ou babás aqui,” ela sorri. “Eu passo muito tempo em meus pijamas e moletons. Como uma amiga me disse sobre ser uma nova mãe, ‘Você acorda, sem maquiagem, encontre um minuto para escovar seus dentes, faça um copo de chá, o chá fica de lado, você tenta tomar banho. Depois você dorme, vestindo as mesmas roupas, acorda e faz tudo de novo.'”

“Como eu não sou mãe, tentar captar a realidade dos primeiros estágios da maternidade foi um verdadeiro desafio para mim. Fiquei com um pouco de dificuldade de imaginar, ‘Eu não sei exatamente como é isso.’ Então eu pensei, isso é o mesmo que qualquer outro trabalho de atuação – eu realmente não sei como é ser a Rainha Victoria. Então eu passei um tempo com uma parteira e algumas mães. Muitas das minhas amigas são mães e me enviaram e-mails com detalhes do dia-a-dia, como o que é realmente ter tido duas horas de sono, ou o que seus hormônios estão fazendo e a realidade de só tentar pegar sua bolsa, chaves e sair com o bebê.”

O diretor da série, Glendyn Ivin, também mandou Jenna para as ruas de Melbourne com um carrinho [de bebê] para ver como as pessoas a tratariam como uma jovem mãe. “Foi muito legal esperar por algumas pessoas que vieram para tirar fotos e quando olharam dentro do carrinho, só havia uma garrafa de água vazia! Então eu expliquei por que o diretor me fez fazer isso, então me meti em algumas situações embaraçosas. A manta no carrinho para proteger o bebê do sol foi preso com alfinetes, então foi uma dica enorme.”

“Depois eu fui a uma loja e eles me recomendaram um creme de rosto pós-parto que não tive coragem de explicar que eu não precisava de usar, então só comprei e saí. As pessoas te tratam diferente quando se é mãe – os carros diminuem a velocidade quando estão dirigindo perto de você, por exemplo, então isso me fez ver o mundo de uma perspectiva diferente.”

Mas também há lados obscuros para Joanna, o que tornou o papel ainda mais desafiador. “Ela é falha. Quando conhecemos Joanna ela está lidando com uma depressão pós-parto, e é aí que começa,” explica Jenna. “Há coisas maravilhosas sobre a maternidade, mas a sua identidade também está completamente diferente, especialmente para Joanna, uma professora, já que antes ela era muito independente. Nós a vemos no começo da série com sua melhor amiga Kirsty, saindo e ficando bêbada. Então, de repente, sua vida está vastamente diferente. Naqueles primeiros dias da maternidade, vemos quanto tempo ela fica sozinha em casa, exausta.”

“Ela vai para as profundezas mais escuras que uma pessoa poderia ser empurrada. Ela realmente queria ser mãe? Era definitivamente algo para o qual o marido estava mais preparado. E obviamente há a depressão pós-parto, mas eu não acho que ela particularmente percebe que é isso que ela está passando porque o bebê tem apenas três meses de vida. Muitas pessoas com quem conversei disseram: ‘Deus, eu realmente não percebi que tive depressão pós-parto até um ano depois.'”

A experiência afastou Jenna da maternidade? “Não, mas abriu meus olhos para as realidades a respeito disso. E me mostrou o que muito das minhas amigas estão experienciando.”

Em uma cena angustiante, vemos Joanna agarrando seu bebê chorando constantemente durante um voo de 25 horas de Glasgow para a Austrália. É essa jornada que todo pai teme, diz Jenna. “Você está tentando fazer seu bebê ficar calmo para controlar o barulho em meio as reclamações de outros passageiros, no que também é uma atmosfera dolorosamente claustrofóbica.”

Como foi gravar? “Desse jeito, sério,” ela ri. “Nós gravamos em Maidenhead em um avião que foi transformado em um set. E todos nós estávamos nele por dois dias, gravando por 12 horas em ordem cronológica. Então foi como ir a Melbourne, mas sem destino.”

“Nós tivemos gêmeos de seis semanas interpretando o Noah. A mãe deles tem seis filhos e ela estava bem tranquila no set. Como eles são gêmeos, pudemos trocar os bebês durante as gravações. Um tem mais cabelo mas nós apenas colocamos uma touca nele. E muito choro foi adicionado depois.”

O marido de Joanna, Alistair, um assessor político, é interpretado pelo australiano Ewen Leslie, 38, que foi aclamado pela crítica depois de contracenar com Nicole Kidman em Top Of The Lake. Ele diz que o drama toca nos “mitos da maternidade”, incluindo a relação com sua mãe na tela, Elizabeth, interpretada por Stella Gonet, de The Crown. “Há um ponto na série que ela diz que quando Alistair nasceu ela não sentiu uma ligação com ele. Então eu acho que de muitas maneiras ela se sentiu como uma jovem mãe, o que Joanna está sentindo como uma nova mãe.”

Ewen acha que Alistair será duramente criticado. “Com certeza ele é um sedutor. Mas todos os personagens são complicados. Eu gosto dele? Provavelmente eu não gostaria de tomar uma cerveja com ele, mas não acho que ele gostaria de tomar uma comigo.”

Para me inspirar, li “Winners: And How They Succeed” do Alastair Campbell, assessor político do Tony Blair, e assisti “The Thick Of It“. Também analisei pessoas que trabalham como assessores políticos para certos primeiros-ministros e tive uma visão sobre esse mundo feroz. A coisa divertida sobre interpretar uma pessoa que está absolutamente no controle é que você também consegue desvendá-las.”

The Cry deve atrair comparações com o desaparecimento de Madeleine McCann de três anos, que desapareceu de sua cama em um apartamento de férias em Portugal em 2007, provocando o que muitas vezes tem sido descrito como o caso de pessoa desaparecida mais relatado na história moderna.

Ele também traz de volta memórias de Azaria Chamberlain, a australiana de dois meses que desapareceu durante um acampamento familiar em 1980. Seu corpo nunca foi encontrado. Seus pais, Lindy e Michael Chamberlain, disseram que ela havia sido tirada de sua barraca por um dingo, mas Lindy foi condenada por assassinato e passou mais três anos na prisão. Ela foi liberada quando uma peça de roupa de Azaria foi encontrada perto de um covil de dingo e novos inquéritos foram abertos. Em 2012, 32 anos após a morte de Azaria, a versão dos eventos dos Chamberlains foi apoiada por um legista.

A autora Helen FitzGerald admite que ambos os incidentes estavam em sua mente quando ela escreveu The Cry. “O sentimento que rondava minha mente era, “poderia um casal sobreviver a isso?” Lindy Chamberlain como a grande história da minha juventude – muitas mulheres disseram que ela era culpada como pecado.”

Mas houve outros eventos que a inspiraram, ela diz. “Eu me apaixonei por um italiano escocês quando eu tinha 23 anos e me mudei para Glasgow. Parte do acordo era que voltássemos à Austrália todos os anos. Eu tenho isso por escrito. Fui estúpida, na verdade, porque nós tivemos que viajar naquela maldita viagem todos os anos. E o mais importante foi quando minha filha Anna nasceu porque eu estava muito deprimida depois de seu nascimento.”

“Foi no meio do inverno, e eu estava em um apartamento no último andar em Glasgow e foi um pouco chocante para mim sem minha família. Então, voltamos para a Austrália com Anna quando ela tinha cerca de dez semanas de idade e ela chorou todo o caminho. Me senti como a Joanna na história, onde nós éramos muito julgadas, e com razão, mas não lidei muito bem com isso.”

“Eu me lembro, eu me preparei e me planejei para isso. Eu tinha roupinhas e presentes para ela, mesmo que ela fosse pequena e não pudesse nem mesmo abri-los. E foi nessa viagem que a amamentação deu errado para mim e desisti. Eu apenas sentei lá por 21 horas tentando amamentar com muitas mulheres dizendo para mim: ‘Você não deve desistir.'”

Mas o que acabou com a depressão pós-parto de Helen? “Estava acontecendo aquela viagem. Estranhamente, eu não sabia que tinha, na verdade. E é só agora que eu paro e penso: “Ah, eu não queria sair de casa. Não queria ver ninguém.” Eu senti aquele peso que vem sobre você. Nenhuma alegria no mundo. Eu realmente não me conectei com a minha filha até que ela tinha nove meses. A viagem foi muito importante, na verdade. Apenas revendo a família e tomando um pouco de sol e voltando sentindo-me revigorada.”

Quanto a Jenna, ela está ansiosa para se revigorar filmando a próxima temporada de Victoria. “O que é legal é que você volta e o tempo passa. Há um senso de família crescendo. Vai ser muito bom voltar para algo completamente diferente depois de um drama tão intenso.”

The Cry estreia no domingo, 30 de setembro, às 9 p.m na BBC.